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17 Feb
17Feb

À medida que o home office foi adotado pelas empresas na esteira dos primeiros casos de covid-19, uma pergunta se impôs no mundo corporativo em 2020: qual será o destino dos prédios de escritórios que abrigavam as empresas? Neste início de 2021, com a pandemia prestes a completar 12 meses, a resposta a essa questão parece já estar clara. A onda de devoluções de escritórios já começou e, segundo especialistas no setor imobiliário, deverá se agravar neste ano. 

O movimento das empresas se reflete diretamente nos dados deste mercado. De acordo com a empresa americana especializada em imóveis corporativos JLL, a taxa de disponibilidade de espaços em edifício corporativos saltou 50% do primeiro para o último trimestre do ano passado: o total de imóveis do tipo sem inquilino, que era de 13,6% entre janeiro a março, no pré-pandemia, fechou 2020 acima dos 20%. 

E a própria JLL avisa, em seu mais recente relatório, que a situação tende a se agravar neste ano, tanto pela adoção massiva do home office quanto pela contínua inauguração de novos edifícios em São Paulo - o mercado que serve de termômetro para a situação em todo o País deve ampliar a oferta de espaços corporativos em mais de 200 mil m² em 2021. E há capitais em situação pior: no Rio de Janeiro, a taxa de vacância chega a 40%.A "onda" de devoluções de escritórios é generalizada. Inclui grupos tradicionais - como a companhia aérea Latam e bancos como o Itaú Unibanco e o Banco do Brasil - e se espalha, em efeito cascata, por negócios de médio porte. Um aspecto está claro: a vida profissional no pós-pandemia vai ter um componente forte de home office.

Segundo Roberto Patiño, diretor da JLL, um terço da força de trabalho da área corporativa, em média, deve trabalhar prioritariamente de casa - ele baseia a previsão em conversas que tem tido com empresas. Em negócios que não dependem tanto da interação com o cliente, o corte dos espaços físicos pode ser mais radical. Nas últimas semanas, o Estadão conversou com empresas que já reduziram seus escritórios em 40%, 50% e até 100%. Segundo Patiño, além de devolverem escritórios, as empresas também vão revisar espaços: logo, os donos de prédios corporativos, que apostavam em grandes metragens para empresas de renome, terão de mudar de tática: isso porque, com boa parte das equipes trabalhando em home office, haverá cada vez mais demanda por espaços de trabalho flexíveis, e não apenas no modelo de compartilhamento ofertado por empresas como a WeWork.

Algumas companhias que já começaram a reduzir espaços estão adaptando as antigas estruturas para transformar as antigas estações de trabalho individuais em ambientes compartilhados. É o caso do banco BMG, que tem 1,1 mil funcionários. Segundo Alexandre Winandy, diretor de transformação organizacional, a instituição abriu mão de 33% do espaço que aluga em uma das regiões mais caras da capital paulista: a Avenida JK, no Itaim.

Agora, um dos andares está sendo adaptado para receber salas de reuniões híbridas, cabines para chamadas telefônicas e armários para que as pessoas guardem seus pertences - que deverão ser recolhidos ao fim de cada dia. Winandy diz que a decisão de partir para a reforma do escritório, que deve ficar pronto em maio, foi apoiada por pesquisas que mostram satisfação de 94% dos trabalhadores com o home office.

Economia com aluguel

Na Afferolab, consultoria de educação corporativa com 350 funcionários, a maior parte dos escritórios virou coisa do passado: com equipes no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Juiz de Fora (MG), a empresa estava relativamente adiantada em relação ao home office antes da pandemia, pois permitia que seus colaboradores ficassem um dia por semana em casa. "Mas havia certa resistência da liderança, que operava no modo 'comando controle'", diz Leonardo Bar, presidente da companhia.

Com a redução dos negócios na pandemia, uma vez que boa parte das empresas cortou custos com treinamentos, o home office virou não apenas uma forma de organização válida para a Afferolab, mas também uma opção de redução de custos para "segurar" demissões. Por isso, o escritório do Rio foi fechado, enquanto o paulistano acabou reduzido à metade. A economia anual? Cerca de R$ 1,2 milhão.