Atualmente, há três grandes focos de preocupação que pautam as diretrizes e os referenciais de sustentabilidade aplicados a edifícios: a promoção da saúde das pessoas, a preservação de ecossistemas e a redução dos efeitos provocados pelas mudanças climáticas. Isso ficou claro nos debates do principal evento global do mercado de green buildings, recém-realizado nos Estados Unidos.
O Greenbuild International Conference + Expo 2023 reuniu líderes de diferentes partes do planeta em Washington, DC, no final de setembro. O CTE esteve lá, representado por Rafael Lazzarini e Adriana Hansen, diretores da Unidade Sustentabilidade.
O evento comemorou os trinta anos de atuação de seu organizador, o US Green Building Council (USGBC). A entidade tem liderado o movimento para transformar o ambiente construído e preparar cidades e comunidades para um futuro mais sustentável e resiliente.
Para o CTE, integrar uma conferência desse porte representa não apenas uma oportunidade de atualização e de fazer networking, mas também de contribuir com o debate técnico. Na ocasião, Adriana Hansen moderou um painel internacional que discutiu a importância da certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) para a sustentabilidade da construção civil na América Latina. A mesa contou com a participação de representantes do México, da Colômbia e da Argentina.
Ao lado de lideranças de outros países, o CTE também esteve em um encontro com representantes do IFC (International Finance Corporation) para discutir a implementação da certificação EDGE (Excellence in Design for Greater Efficiencies). No Brasil, esse referencial tem crescido bastante nos últimos anos, especialmente no segmento residencial.
Nova versão do LEED
Durante o Greenbuild, a comunidade técnica pode conhecer o primeiro draft do LEED v5. A expectativa é a de que, passado o período para discussões e consulta pública, o novo referencial da certificação para edifícios sustentáveis mais aplicada no mundo entre em vigor em 2024, primeiramente para construções existentes (LEED O&M) e, em seguida, para novas edificações (BD+C).
Ficou claro que as mudanças serão profundas e movimentarão positivamente o setor. Com relação à certificação voltada à operação e manutenção, as atenções sempre estiveram mais voltadas para o monitoramento de dados operacionais, com quase toda pontuação atrelada à performance de energia e de água.
Com o LEED v5 isso deve ser alterado. “O entendimento é o de que os impactos provocados pelos edifícios precisam ser vistos de forma mais ampla”, diz Adriana Hansen. Por isso, deve-se buscar mais equilíbrio entre desempenho operacional e os impactos ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Há, por exemplo, a possibilidade de que o LEED v5 inclua um crédito para avaliação e verificação contínua da qualidade mensurável do ar interior, incluindo indicadores para gestão de risco de infecção.
Caminhos para a descarbonização dos edifícios
A necessidade de reduzir as emissões de gases do efeito estufa tem gerado dois movimentos que ficaram evidenciados nas sessões técnicas do evento do USGBC.
O primeiro deles é a eletrificação dos edifícios como rota para substituição de combustíveis fósseis. Os debates mostraram, porém, que para garantir a disponibilidade de energia para todos, a conversão precisa ser acompanhada de ações efetivas para assegurar a eficiência dos edifícios.
Outra transformação em curso é o maior aproveitamento dos sistemas construtivos baseados em madeira engenheirada, matéria-prima que contribui para a industrialização da construção e para a redução da pegada de carbono dos projetos.
Nos Estados Unidos, a expansão desse segmento foi de 75% em 2022, ritmo que deve se manter nos próximos anos. Para se ter uma ideia, atualmente há 13 edifícios altos (com mais de 25 andares) com madeira engenheirada em território norte-americano.
Mas há mais de 200 projetos em desenvolvimento, incluindo edifícios com 40 pavimentos que utilizam estrutura mista, com núcleo rígido de concreto, esqueleto de aço e lajes de madeira. “O olhar para o futuro aponta para projetos cada vez mais híbridos, com o emprego dos materiais nas situações em que eles apresentam o melhor desempenho”, analisa Rafael Lazzarini.
Comunicação e transparência
A maturidade da indústria de materiais para construção nos Estados Unidos, sobretudo para comunicar os atributos de sustentabilidade de seus produtos, chamou a atenção dos diretores do CTE que estiveram em Washington DC.
“Grandes players do mercado vêm investindo no desenvolvimento de declarações ambientais de produtos (EPDs) não apenas para linhas específicas com viés ecológico, mas para todo o portfólio”, comentou Adriana Hansen. Ela observou que, em várias indústrias norte-americanas, os produtos já nascem em alinhamento com premissas de sustentabilidade e transparência. “Isso ainda não é realidade no Brasil.
Mas esperamos que esse grau de entendimento sobre a temática da sustentabilidade acabe chegando por aqui, mais cedo ou mais tarde”, conclui a diretora técnica do CTE Sustentabilidade.
fonte: https://cte.com.br/