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13 Feb
13Feb

Somos todos Neurodiversos?

Quem não quer um sistema fortalecido, com inúmeras habilidades disponíveis em diversas frentes e níveis ? Quem ou qual corporação está disposta a sair da caixa e englobar colaboradores e equipes neurodiversas , e mais do que isto, investir em seu ambiente para que todos possam ofertar o melhor de seu potencial?!

Muitas vezes no ambiente de trabalho podemos nos considerar inclusivos e incapazes de fazermos julgamentos, mas o fato é que a questão sobre neurodivergência ainda é muito nova no ambiente corporativo e podem ocorrer estereotipações, trazendo um desafio extra a ser trabalhado na empresa e nos grupos de colaboradores. E frente a essa realidade, este artigo visa elucidar essa temática aliando a inclusão de pessoas neurodivergentes no âmbito psicológico, social, apresentando formas que o ambiente pode atuar como ferramenta de apoio a essa inclusão que faz-se mais que necessária.

Cerca de 2 milhões de brasileiros, segundo o Ministério da Saúde, se encaixaram no ano de 2021 com um desenvolvimento neurológico diferenciado, descrito do ponto de vista estatístico como atípico. São indivíduos com diagnóstico de autismo, dislexia, TDAH, síndrome de Tourette, discalculia, disgrafia, entre outros. A probabilidade de haver pessoas neurodiversas em seu escritório, mesmo sem diagnóstico ainda, é alta. Metade dos adultos que são neurodiversos nem tem conhecimento disso. E pode ser por isso que algumas pessoas têm desafios ou dificuldades no local de trabalho, em especial após uma experiência de home office forçado em um período extenso, como foi o caso entre 2020 a 2022; onde muitas pessoas desenvolveram formas de trabalhar com um ambiente de suporte para suas necessidades individuais, pois estavam em suas casas, um ambiente familiar. Quando nossas necessidades básicas de segurança e conforto são atendidas, podemos concentrar nossa energia em pensar, criar e inovar. E ao se deparar com a situação de voltar ao escritório, mesmo que somente algumas vezes na semana, essas pessoas sintam-se ansiosas, depressivas, desanimadas, irritadas ou perdidos.

Os fatores ambientais modulam a nossa experiência, e nossa experiência gera comportamentos e interações com o meio externo. Na verdade, os fatores ambientais podem nos dissuadir e nos atrair para um determinado espaço e isso gera influência sobre nossa produtividade e engajamento com as atividades realizadas naquele espaço. Mas não basta o espaço ter uma "boa aparência", para garantir que os espaços nas empresas sejam adequados para todos precisamos fornecer combinações diferentes para atender as necessidades das pessoas. Cada organização é diferente. Tem sua marca e personalidade, e por essa razão as melhores soluções vêm baseadas na compreensão da cultura da empresa, entender como as pessoas ali trabalham e trazer um design baseado em evidências, a fim de munir e mensurar as justificativas projetuais.

Mas, para que a equipe prospere e trabalhe em seu maior potencial, o local de trabalho deve se adaptar para atender as necessidades das pessoas neurodiversas. Uma vez que você projeta e atende as necessidades dos extremos, o meio também é atendido. Ou seja, se projetarmos pensando nas questões que a neurodiversidade nos traz, o ambiente beneficiará a todos, pois um ambiente que abraça a neurodiversidade oferece ao seu usuário escolha e controle. Viemos de um padrão de escritórios e corporações que produzem e entregam locais de trabalho com uma mentalidade de tamanho único, onde todos são tratados como se tivessem as mesmas necessidades, mas isso não é um retrato da realidade. Cada pessoa tem uma preferência, que afeta diretamente a sua produtividade dependendo do processamento cognitivo e nível de estimulação sensorial do local.

Portanto, nem todos os espaços devem ter o mesmo nível acústico em todas as suas áreas, as pessoas neurodiversas tendem a ser hipo ou hipersensíveis ao ambiente. O ideal é que haja áreas mais silenciosas que apoiem o foco e o trabalho de concentração; áreas com murmúrios gerais de fundo, onde as pessoas possam conversar sem incomodar seus colegas; e áreas sociais com ainda mais vozes e murmúrios - ideal para a socialização, que é tão importante para nossa evolução. Também é necessário garantir zonas livres de ruído branco, pois este, pode causar dores de cabeça em cerca de 10% da população. Em geral, devemos nos esforçar para ter diferentes níveis de iluminação, níveis de potência e níveis de som para suportar diferentes níveis de atividade e preferências pessoais. Pode parecer um projeto dispendioso, porém, muitas empresas hoje aqui na Europa já estão aplicando programas de diversidade, é maravilhoso poder mensurar os frutos desses investimentos. Muitas empresas veem o benefício dessa adaptação mas não sabem por onde começar e onde procurar ajuda. A indústria tem uma tarefa importante para oferecer suporte a esse conhecimento. Temos a oportunidade de criar ambientes diversos, acolhedores e inclusivos, não apenas para beneficiar pessoas neurodiversas, mas para beneficiar toda a equipe de colaboradores, é um objetivo social e comercial.

No que tange às questões de comportamento e psicológicas, apesar de algumas pessoas apresentarem limitações nas habilidades sociais, estudos já apontam que essas mesmas pessoas podem contar com uma melhor memórias de longo prazo, uma capacidade de pensamento visual ou funções perceptivas aumentadas, uma maior facilidade em visualizar padrões, além de grande imaginação e criatividade. Contar com essa variedade de mentes é extremamente benéfico em desenvolvimento de  projetos ou busca por soluções frente a problemas complexos,  porque o grupo adquire uma forma diferente de ver e pensar sobre cada tarefa, e isso potencializa novas ideias, ampliando a possibilidade de uma entrega de maior qualidade no produto ou serviço. Portanto as corporações são muito beneficiadas em contar com esse ecossistema complexo e variado, apoiando os talentos neurodivergentes.

Ao final, quando unimos estratégias de design baseada em evidências para projetar, unida a uma equipe especializada para suporte de psicoemocional aos colaboradores, podemos entregar locais de trabalho de alto desempenho. E se levarmos em conta a definição do termo neurodiversidade, cunhado pela socióloga, Judy Singer, vamos compreender que é um termo que se equipara com a biodiversidade neurológica, ora, se cada um de nós temos um cérebro que foi modulado desde o princípio de nossa existência por experiências individuais, isso nos torna seres único, não existem dois cérebros iguais no mundo; portanto, somos todos neurodiversos. Ao longo de toda uma história chegamos desenvolvendo e entregando projetos, locais, escritórios cada vez melhores, mais modernos e sustentáveis. Sempre pelo prisma de que temos as mesmas necessidades, mas nós não temos. Nossas individualidades devem ser consideradas e com isso podemos potencializar nosso talentos.

Referências:
“Our Inclusive Hiring Programs,” Microsoft, visto em Julho 25, 2019. D. P. Wyon, (1996, October), “ Indoor Environmental Effects on Productivity,” Proceedings of IAQ (Vol. 96, pp. 5-15), visto em Junho 1, 2020. “Disability as an Asset in the Workplace,” JPMorgan Chase, visto em Junho 21, 2021.

Por Arquiteta Jessica Carbone

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