Situadas no encontro entre física, química, biologia e psicologia, as neurociências oferecem possibilidades para compreender emoções, pensamentos e ações humanas. Seus princípios têm impactado diferentes segmentos, inclusive a arquitetura. Alvo de estudos em todo o mundo, a neuroarquitetura utiliza, principalmente, conhecimentos da neurociência comportamental e cognitiva para gerar espaços que promovam bem-estar físico e mental, gerem identificação e invoquem emoções positivas nos usuários.
Na hora de projetar, isso se reflete no desenvolvimento de soluções que partam de uma abordagem multissensorial Priscilla Bencke
Não há “receita pronta” para aplicar a neurociência na arquitetura. Contudo, há algumas linhas mestras para nortear a concepção de ambientes que atendam às necessidades biológicas humanas.
A primeira delas é o entendimento que as pessoas são seres sensoriais e utilizam todos os seus sentidos para compreender os espaços físicos. “Na hora de projetar, isso se reflete no desenvolvimento de soluções que partam de uma abordagem multissensorial”, explica a arquiteta Priscilla Bencke, da Neuroarq Academy. Ela destaca ser fundamental que arquitetos e designers não se limitem a tratar o aspecto visual em seus projetos. Isso porque, a todo momento, um sentido exerce influência sobre o outro. Bencke reforça seu argumento, citando uma pesquisa realizada pela Universidade de Mainz, na Alemanha. que demonstrou como a cor dos ambientes interfere no paladar. “No teste, as pessoas descreveram sabores diferentes ao degustar o mesmo vinho somente em função das cores dos ambientes”, revela a arquiteta.
A neuroarquitetura resgata muitos princípios que sempre estiveram associados à boa arquitetura. Entre elas, o emprego correto da iluminação, considerando o ciclo circadiano em que o corpo humano se sente mais confortável diante da luz natural.
Outro conceito muito valorizado é a biofilia, que trata da necessidade humana inata de se relacionar com a natureza. “Estratégia para reconectar os projetos com as nossas memórias ancestrais, o design biofílico vai muito além de inserir plantas nos espaços. Ele explora desde a complexidade de formas orgânicas, até a oferta de uma visão ampla do espaço, que desperta tranquilidade aos usuários”, explica a arquiteta Gabi Sartori, também da Neuroarq Academy.
Segundo Sartori, os elementos da natureza estão muito associados à redução de estresse e de ansiedade, e ao aumento da motivação e do engajamento das pessoas. “Pesquisas internacionais já comprovaram que quando trazemos o natural para os espaços físicos há um aumento da sensação de bem-estar, ganho de produtividade e mais criatividade”, continua ela.
O ruído é um problema recorrente, principalmente em ambientes de trabalho Fernando Neves
A qualidade acústica é outro aspecto muito trabalhado pelos projetos alinhados com a neuroarquitetura. “O ruído é um problema recorrente, principalmente em ambientes de trabalho. 93% dos colaboradores ficam incomodados com o barulho em ambientes de escritórios; 80% desses usuários acreditam que seu ambiente não está preparado para prover qualidade e estimular a produtividade”, comenta o arquiteto Fernando Neves, coordenador de desenvolvimento de mercado acústico da Saint-Gobain.
Ele também cita dados do Opinion Matters. “Em compensação, uma boa acústica pode reduzir os níveis de adrenalina em 30%, melhorar a motivação em 66% e incrementar o desempenho das tarefas que demandam concentração máxima”, complementa Neves.
Por isso mesmo, projetos com foco na promoção da saúde e do bem-estar não podem prescindir de soluções acústicas. “Durante muito tempo, a prioridade dos projetos, especialmente em ambientes corporativos, foi maximizar o aproveitamento do espaço. Agora, as tendências refletem o entendimento de que as pessoas precisam estar em locais que ofereçam conforto mental e físico para serem produtivas”, afirma Gabi Satori.
Alguns interiores ilustram bem a preocupação em criar ambientes restauradores, que promovam satisfação e acolhimento. É o caso do escritório Studio Sol, em Belo Horizonte (MG). Para criar uma atmosfera lúdica, o projeto de Guto Requena tira proveito do forro formado por caixas de madeira que incorporaram painéis acústicos (Nexacustic) e iluminação automatizada.
Outro exemplo é o projeto realizado pela arquiteta Moema Wertheimer para os escritórios da Tishman Speyer Brasil com princípios de design biofílico e nuvens acústicas (Ecophon).Priscilla Bencke, Gabi Sartori e Fernando Neves participaram de um webinar promovido pela Saint-Gobain sobre neuroarquitetura.
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Fonte> AECweb