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13 Mar
13Mar

O Dia Internacional da Mulher é celebrado em todo o mundo desde sua oficialização pela ONU na década de 70. Em linhas gerais, esta é uma data que simboliza a luta histórica de nós mulheres para termos nossas condições equiparadas as dos homens.

No embalo das comemorações deste dia, como mulher e arquiteta, decidi trazer aqui um panorama sobre trajeto profissional das mulheres na arquitetura – principalmente, no nosso país -, denunciando a discrepância que ainda existe no meio como forma de fortalecer a luta que o dia internacional da mulher simboliza. É um alerta, um desabafo e também um pedido de cooperação para que cada um reconheça o seu lugar e, sobretudo, reconheça o nosso lugar, como mulheres, na criação do cenário arquitetônico do nosso país.

Arquiteta Zaha Hadid

Em 2019 o CAU/BR fez um levantamento completo sobre a presença da mulher na arquitetura e no urbanismo. De acordo com esses dados, dos profissionais ativos e registrados no conselho, 63,10% são mulheres. O mesmo ocorre dentro das universidades, com 67% das alunas sendo mulheres. Entretanto, quando se fala em produção arquitetônica, dentre os principais serviços prestados pelas mulheres e registrados na plataforma do CAU, 55,7% são enquadrados dentro de projeto enquanto apenas pequenas porcentagens – 7%, 2,3%, 1,3% – estão relacionadas a outros serviços como execução, engenharia de segurança do trabalho e planejamento territorial, respectivamente. Nos quesitos de premiação e representatividade, os números também se invertem, apenas 17% dos prêmios nacionais de projeto foram concedidos a equipes lideradas por mulheres assim como apenas 17% dos membros do conselho diretor federal são mulheres, 24% no conselho estadual, e por aí vai.

Nesses dois anos, é fato afirmar que algumas coisas mudaram, mas o cenário ainda precisa de muita atenção. Apesar das novas conquistas, antigas demandas insistem em persistir e as perguntas instigadas pelo levantamento do CAU/BR continuam em vigor: Como somos a maioria nas universidades e na profissão, mas a minoria em cargos de chefia e liderança? Que pedras são estas que encontramos no meio do caminho e que nos afastam de uma representatividade mais significativa?

Arquiteta Moema Wertheimer - MW Arq

Não é novidade que a nossa trajetória como mulheres dentro da arquitetura e do urbanismo, como na maioria das profissões, é marcada por uma série de dificuldades, e também por conquistas, claro, que vão desde a luta por espaços dentro das universidades ao reconhecimento no exercício da profissão. Contudo, para começar a compreender este percurso, é importante considerar uma situação historicamente alimentada que nos fez – e nos faz – brigar por nosso lugar nas lideranças, nas cidades e, consequentemente, na carreira da arquitetura e urbanismo. 

Arquiteta Claudia Andrade

Há uma invisibilização histórica do papel da mulher já que ele esteve sempre atrelado a realização exclusiva das tarefas de cuidado e suporte do lar o que, por sua vez, nos negou cargos de maior hierarquia, assim como, nos negou a livre apropriação da rua e, por consequência, a participação no desenho e projeto da cidade.

Conselheiras mulheres são maioria no CAU

Não estou dizendo que todas as mulheres deveriam criar e chefiar grandes empresas, vencer concursos, projetar e gerenciar grandes obras, há uma beleza incrível em trabalhar nas pequenas escalas, assim como há um prazer imenso em cuidar da casa, dos filhos, da família, indubitavelmente, mas essa beleza e esse prazer só são devidamente deleitados quando as tarefas são escolhas e não imposições. Quando há oportunidades e reconhecimento iguais. 

Contudo, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos cotidianamente no exercício da nossa profissão, é importante citar que, graças ao trabalho de mulheres incríveis, podemos presenciar alguns avanços, principalmente no quesito de representatividade. Pela primeira vez na história, a maioria do corpo de conselheiros do CAU/SC, por exemplo, será formada por mulheres. Essa nova composição do plenário para a gestão 2021/2023 mostra um retrato mais fiel do ponto de vista da representatividade de gênero da história do conselho desde a primeira gestão, em 2012. 

Arquiteta Tânia Costa

Não há dúvidas que ainda existe muito a ser feito, começando pelo empoderamento desde o início, nas universidades, inserindo referencias e encorajando as mulheres a assumirem o nicho que quiserem, da forma como quiserem, para que, quando duvidarem, desdenharem ou nos inferiorizarem, consigamos levantar as nossas cabeças e ocupar os espaços que são também nossos, para que essas maiorias na universidade e na profissão não se esvaiam nas dificuldades de ser uma mulher na arquitetura. 

Arquiteta Priscilla Bencke

Buscando dissipar a disparidade de gênero que existe no mundo da arquitetura, ao destacar as vozes das mulheres em conversas sobre arquitetura - a seguir estão entrevistas que apresentam figuras femininas inspiradoras no mundo da arquitetura.

Mariam Kamara: “Arquitetura é o palco em que vivemos nossas vidas”

A fundadora e diretora do Atelier Masomi - Mariam Kamara - fala sobre a natureza das ruas como espaços públicos compartilhados em países em desenvolvimento e como a arquitetura dos edifícios e o planejamento urbano moldam diretamente a vida das pessoas.

Carme Pinós: MPavilion 2018

A arquiteta espanhola Carme Pinós fala sobre seu projeto MPavilion 2018, a primeira obra pública encomendada a um arquiteto espanhol na Austrália.

Grafton Architects: Por que eles ganharam o Prêmio Pritzker de 2020

Martha Thorne, diretora executiva do Prêmio Pritzker de Arquitetura e Reitora da Escola de Arquitetura e Design IE, compartilha algumas das razões pelas quais os arquitetos irlandeses Yvonne Farrell e Shelley McNamara ganharam o Prêmio Pritzker de 2020.

Anne Lacaton no 7º Simpósio Velux Daylight

Anne Lacaton, sócia da Lacaton & Vassal, fala sobre o valor da luz natural na arquitetura e como criar um espaço sem “limites fortes entre o interior e o exterior”.

Studio Gang: Arkansas Art Center Expansion

A fundadora do Studio Gang, Jeanne Gang, e a diretora de design, Juliane Wolf, explicam o processo de design por trás da expansão do Arkansas Art Center.

Helen Taylor: sobre o futuro alternativo das cidades

Helen Taylor, arquiteta associada da Woods Bagot - fala sobre o futuro da arquitetura e das cidades através da perspectiva do projeto “The Londoner” , um hotel que apresenta o porão habitável mais profundo do mundo.

Em conversa com Anastasia Elrouss: Arquiteta, Ativista e Fundadora da Warch (ée) NGO

Anastasia Elrouss, fundadora da Warch (ée) NGO fala com Christele Harrouk e Hana Abdel sobre seu início, seu trabalho e esforços para promover a inclusão feminina no campo da arquitetura e construção.

Yael Reisner: em sua luta pela beleza ao longo da vida

A arquiteta londrina Yael Reisner e curadora da Bienal de Arquitetura de Tallinn 2019 explora o tema “A beleza é importante” por meio da arquitetura.

HerCity: uma caixa de ferramentas digital para cidades sustentáveis, iguais e inclusivas

Christele Harrouk da ArchDaily fala com a equipe por trás da caixa de ferramentas digital para o planejamento urbano inclusivo, HerCity, da Un-Habitat Chiara Martinuzzi e Christelle Lahoud, e do think tank sueco independente Global Utmaning, Tove Julin.

Pipeline que empoderam as mulheres nos setores da arquitetura, construção e urbanismo no mundo 

Rebelarchitette

Rebelarchitette criou um mapa-múndi público interativo mostrando 732 arquitetas notáveis de todo o mundo. Lançado 2 anos após seu e-book Architette = Women Architects, WAW Map é uma plataforma aberta e colaborativa que é constantemente atualizada. Indo além da campanha #timefor50 #timeforequality, defendendo a participação igualitária de homens e mulheres na face pública da arquitetura, a nova plataforma promove a colaboração versus competição e riqueza na diversidade. 

Mulheres pioneiras da arquitetura americana

Mulheres Pioneiras da Arquitetura Americana é um site lançado pela The Beverly Willis Architecture Foundation, que busca promover e documentar mulheres importantes na arquitetura. É o resultado final de inúmeras entrevistas realizadas pela casa, compilação de pesquisas e documentação fotográfica, bem como verificação de fatos. Desde 2012, Beverly Willis e Wanda Bubriski trabalham para trazer à luz as obras completas de mulheres arquitetas nos Estados Unidos.

MMW- Mulher, Mujer, Woman

MMW é uma plataforma online dedicada às representações arquitetônicas, que tem como objetivo divulgar a produção feminina em nosso meio profissional. Criada pelas arquitetas brasileiras Carol Vasques e Débora Boniatti em reação à ainda escassa difusão de referências femininas, a plataforma busca “evidenciar a importância e relevância das mulheres no passado, presente e futuro da profissão”. 

HerCity

HerCity é uma plataforma que envolve as mulheres no desenvolvimento urbano, a fim de fazer cidades melhores para todos. Virando as mesas e colocando mulheres como especialistas, a caixa de ferramentas digital visa criar cidades e comunidades mais inclusivas, equitativas e sustentáveis. A iniciativa coloca métodos e ferramentas à disposição dos atores urbanos em todo o mundo, a fim de apoiar as cidades que integrem a participação de mulheres em suas estratégias de longo prazo.

Wiki Women Design

O Flanders Architecture Institute tem trabalhado para trazer "as mulheres que deixaram sua marca na história do design belga para fora das sombras", através do Wiki Women Design. Usando a Wikipédia como plataforma, a iniciativa visa organizar sessões de edit-a-thons ou escritas, para compensar este atraso.

Arquitetura na Periferia

O projeto Arquitetura na Periferia é o resultado da dissertação de mestrado da arquiteta Carina Guedes. Ele funciona desde 2014, oferecendo cursos de assistência técnica a mulheres em territórios com infraestrutura e moradia insuficientes, comunidades periféricas e ocupações. O projeto está estruturado em oficinas de quatro a seis meses e começa com aulas de desenho. 

400 Forward

400 Forward é um projeto que busca, inspira e orienta a próxima geração de arquitetas. Com destaque para a habilitação profissional da 400ª arquiteta afro-americana em 2017, o programa visa familiarizar as jovens com a arquitetura, fornecendo-lhes ferramentas para enfrentar os problemas de injustiça social. Fundado por Tiffany Brown, o 400 Forward também oferece bolsas de estudo e mensalidade para material de estudo, bem como exames de licenciamento em arquitetura, para mulheres afro-americanas.

Warchée

Warchée é uma organização que tem como objetivo a integração das mulheres na área da construção. Fundada por Anastasia Elrouss e nascida da constatação da rápida urbanização em regiões - principalmente no Oriente Médio - onde as mulheres ainda estão excluídas de certas profissões, a ONG busca criar um mundo inclusivo e em constante evolução. Com o objetivo de estar presente em todos os países, Warchée fornece às mulheres as ferramentas e habilidades adequadas para que possam encontrar um emprego neste setor e causar impacto em sua cidade.