Imagine o profissional de uma construtora ou incorporadora com autoridade para aceitar ou rejeitar entregas do trabalho de qualquer projetista contratado para desenvolver uma determinada área ou especialidade (arquitetura, estrutura, sistemas prediais etc.) de um empreendimento. Quem possui tal atribuição é a coordenação de projetos.
Validar ou não o trabalho das equipes especializadas, entretanto, não é a única e nem a principal função desse profissional. A prioridade é estabelecer uma conexão entre a produção dos especialistas e fazer a gestão do projeto de forma integrada, com uma visão macro. Envolve responsabilidades que vão desde o planejamento de custos, etapas e prazos do processo de projeto, até a contratação desses profissionais e a análise específica de cada um deles.
Por conta disso, a atuação do coordenador de projetos tem se tornado cada vez mais estratégica para as construtoras. Decisiva para a qualidade dos projetos encaminhado às obras, torna-se fundamental também para o sucesso do empreendimento como um todo.
Tanto que a famosa atitude ou cultura de “dono” (mentalidade do profissional de pensar e agir como se fosse proprietário do negócio), tão valorizada no mundo corporativo, é praticamente inerente à atividade de coordenação de projetos, com foco em cada empreendimento. “É como se fosse um filho”, brinca a arquiteta Ludmila Milani, da Barbara Construtora.
Considerada irreversível pela maioria dos especialistas e profissionais de referência no setor, a introdução do Building Information Modeling no dia a dia da coordenação de projetos tem sido impactante, transformadora e, por vezes, um pouco sofrida.
Isso porque ainda é raro encontrar no mercado profissionais capazes de aliar experiência e conhecimento técnico em construção com a habilidade no manejo dos sistemas para BIM. “Essa transição não é rápida e tem demandado a convivência entre esses dois profissionais: o coordenador de projetos e o BIM manager”, afirma o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Silvio Melhado, autor do livro “Coordenação de Projeto de Edificações”.
A tendência, porém, ao longo dos anos – como já aconteceu em décadas passadas, com a introdução da informática e dos sistemas CAD nos escritórios de arquitetura – é que as duas funções sejam ocupadas pelo mesmo profissional. “Hoje, a coordenação ainda se apoia no BIM manager, mas é um caminho sem volta. Natural que, no futuro, sejam a mesma pessoa. Todos precisam se preparar nesse sentido”, afirma Ludmila.
A coordenação de projetos se apoia em competências relacionadas à gestão, tecnologia, pessoas e processos - Prof. Silvio Melhado
Mas quais são, afinal, as principais aptidões necessárias para a função? O professor Melhado aponta quatro eixos fundamentais. “A coordenação de projetos se apoia em competências relacionadas à gestão, tecnologia, pessoas e processos”, acredita o docente da Poli-USP.
Veja abaixo o detalhamento de cinco competências ou habilidades necessárias aos profissionais de coordenação de projetos:
1) Amplo conhecimento técnico na área de construção
Impossível discutir com várias equipes especializadas sem um vasto conhecimento prévio das atividades de projetar e construir. Portanto, além da formação universitária em Arquitetura ou Engenharia Civil, o profissional deve buscar especializações em pós-graduações, MBAs, mestrados profissionais e cursos de atualização. E há, ainda, a revolução do BIM em andamento, algo que tem exigido dos profissionais mais experientes a capacidade de se reinventar em meio a uma nova realidade.
2) Habilidades de planejamento, desenho e organização de processos;
Como mencionou o professor Melhado, a gestão é um dos eixos da atividade do coordenador, que deve primar pela organização e cuidado com o planejamento, desenho e organização dos processos de projeto. Sem isso, é impossível promover a compatibilização e a integração necessárias.
3) Espírito de liderança, capacidade de negociação e paciência;
Saber reunir pessoas para resolver problemas é essencial. “Ao invés de apenas apontar culpados, é preciso entender quem vai poder ajudar e correr atrás para resolver, sem entrar em desespero”, afirma Ludmila. Ou seja, é muito importante saber se comunicar e negociar de forma paciente, ouvindo todos os interlocutores e respeitando as diferentes visões.
4) Curiosidade e humildade para novos aprendizados
“Precisamos estar sempre dispostos a aprender e, com isso, poder auxiliar os projetistas na busca pelas soluções mais viáveis, técnica e financeiramente”, afirma Ludmila. “É necessário ter a humildade de reconhecer que sempre pode haver uma solução melhor. Acima de tudo, é preciso saber escutar”, conclui a arquiteta.
5) Promover a gestão do conhecimento
Mesmo sendo algo embrionário em muitas construtoras brasileiras, a gestão do conhecimento (ou a falta dela) é um tema recorrente. Cada vez se valoriza mais no mercado, por exemplo, catalogar e disseminar as chamadas ‘lições aprendidas’ em cada obra. E, na falta de um gerente de informação dedicado ao trabalho, caberá à coordenação de projetos suprir um pouco dessa lacuna e tentar evitar a perda de conhecimento nas empresas.
É necessário ter a humildade de reconhecer que sempre pode haver uma solução melhor. Acima de tudo, é preciso saber escutar Arquiteta. Ludmila Milan
Fonte: AECweb