Espaços dedicados para diferentes tipos de trabalho e que privilegiam o conforto e a saúde são tendência
Esqueça as inúmeras divisórias em drywall bege, as mesas separadas em baias e atoladas em papéis, os postos de trabalho rígidos e o ambiente extremamente formal e cheio de regras: o escritório do futuro terá elementos que reproduzam o conforto do trabalho remoto e design capaz de estimular a troca entre os colaboradores, a produtividade e a inovação.
Espaços compartilhados, projetados considerando diferentes tipos de trabalho, e pensados estrategicamente para incentivar a colaboração, a socialização e a conexão com a comunidade e a cultura da empresa são tendência no pós-pandemia, em que o modelo híbrido de trabalho – que mistura presencial e home office – deve ser adotado por parte das empresas.
A pandemia mudou completamente a noção da importância do escritório para o sucesso das empresas: a ideia de que era necessário ter todos os colaboradores dentro de um mesmo espaço físico, sob o olhar atento do chefe e cumprindo horários rígidos caiu por terra assim que as primeiras medidas de restrição de circulação entraram em vigor e organizações de diversas partes do mundo adotaram o home office.
“O conceito de escritório, para que serve, onde trabalhar, virou de cabeça para baixo. Claro que isso depende muito do tipo de trabalho, afinal, existem serviços que só podem ser executados presencialmente, mas tem uma quantidade infinita de tarefas que podem ser feitas de qualquer lugar, home office, coworking e dentro do escritório”, explica a arquiteta Heloísa Dabus, sócia-fundadora da Dabus Arquitetura, empresa especializada em projetos corporativos.
Nesse sentido, a arquiteta acredita que as empresas devem repensar o escritório enquanto ambiente de trabalho considerando três fatores, responsáveis por atrair os colaboradores até os espaços físicos: a colaboração, a socialização e a conexão com a comunidade e cultura da empresa.
“Por que as pessoas vão ao escritório? O primeiro fator, certamente, é a colaboração. Por mais que se façam reuniões virtuais, sessões de brainstorm a distância, não é a mesma coisa que o olho no olho. Criar espaços no escritório que valorizem a colaboração é fundamental”, pontua Heloísa Dabus.
O segundo motivo, segundo a arquiteta, é a socialização. Isso porque, com o trabalho remoto, as pessoas passaram a ficar mais tempo dentro de casa, confinadas no ambiente familiar ou mesmo isoladas. “É bastante difícil socializar remotamente com os colegas de trabalho. As pessoas vão querer voltar para o escritório por conta dos encontros casuais, que permitem a troca de conteúdo e de informação para o próprio trabalho”, aposta.
Por fim, a arquiteta destaca a conexão com a comunidade e cultura da empresa como o terceiro fator motivacional para o trabalho dentro do espaço físico de um escritório.
“As pessoas querem sentir que pertencem a alguma estrutura, algo maior, querem estar conectadas com os colegas, com a missão e com o propósito das empresas. Isso tudo aumenta a produtividade, o comprometimento dos colaboradores e também a inovação. Neste sentido, acredito que o escritório vai ser daqui pra frente um difusor da cultura da empresa, um ponto de encontro para isso”, avalia Heloísa Dabus.
Diante dessas constatações, muitas empresas já anunciaram a adoção do modelo híbrido de trabalho e estão fazendo movimentos para criar escritórios atrativos, que sirvam como base e suporte para os funcionários, ao mesmo tempo em que estimulam a inovação, a socialização, a colaboração e valorizam a flexibilidade, a liberdade, a mobilidade e a diversidade.
Neste quesito, a Google é pioneira. A empresa de tecnologia mantém, em São Paulo, uma área de 9 mil metros quadrados, divididos em duas torres com sete andares, com espaços temáticos, ambientes para jogos, videogame, cafeterias, restaurantes, muitas poltronas confortáveis e, acredite, uma biblioteca analógica, com livros e materiais impressos.
Outro exemplo é a Uber, que anunciou recentemente a adoção do modelo de trabalho híbrido – os colaboradores deverão ir ao escritório durante três dias na semana – e a criação de um espaço de 30 mil metros quadrados, em Osasco, para ser a nova sede da empresa. A estimativa é que o prédio seja inaugurado em 2022.
Batizado de Uber Campus, o projeto terá 12 mil metros quadrados de área construída e deve contemplar espaços pouco tradicionais, como sala de amamentação, cafeteria, academia, restaurantes, área para prática de meditação e ioga e um espaço dedicado aos pets dos funcionários, que também poderão frequentar o ambiente. Além disso, o projeto da nova sede da Uber deve ter 18 mil metros quadrados de área verde.
“O escritório do futuro será flexível e terá vários espaços de trabalho específicos, onde cada colaborador poderá escolher o momento certo para cada tipo de atividade que ele vai desempenhar. Os projetos devem contemplar espaços para trabalhos que exigem colaboração e para os que exigem concentração. Os colaboradores terão autonomia para escolher o espaço de trabalho ideal para o tipo de tarefa que precisam realizar. A ideia é que, com isso, sejam mais produtivos”, explica Heloísa Dabus.
Zonas quentes, que estimulam a troca, a colaboração e permitem movimentações ativas e enérgicas, e zonas frias, voltadas para atividades focadas e silenciosas; estilo residencial, que leva elementos da casa para o escritório, criando ambientes confortáveis e descontraídos; e espaços dedicados à biofilia, com muito verde, são algumas das tendências.
“Estamos falando de tendências, mas vale lembrar que o projeto do escritório tem que representar a alma da empresa. E isso não é só para os colaboradores, é para todos que adentram à organização. Não adianta nada encher a empresa de planta, colocar a biofilia como essência do projeto se a organização não prega a sustentabilidade, se faz o oposto”, alerta a arquiteta.
Veja, abaixo, oito tendências que devem fazer parte do escritório do futuro, listadas pela Dabus Arquitetura, empresa especializada em projetos corporativos.
A área multitarefas deve funcionar como um open space, projetado e coordenado para abrigar diferentes tarefas. A ideia é que, nele, os colaboradores tenham liberdade para transitar entre as estações de trabalho e acessar o lounge e o café, por exemplo.
Mesas isoladas, separadas por baias, não devem ter espaço no escritório do futuro. Ao contrário, a ideia é que as mesas dos colaboradores fiquem próximas umas das outras e interligadas de alguma maneira. Apesar disso, pode haver algum tipo de divisória capaz de manter algum nível de individualidade, além de servir como proteção para a saúde.
A biofilia, necessidade de estar em contato e interagir com a natureza, deve ser valorizada no escritório do futuro, por isso, as áreas verdes e uso de elementos naturais são tendência, tanto em ambientes internos como externos.
Sabe a sala de casa, que tem aquele sofá superconfortável e onde alguns minutinhos bastam para descansar e restaurar as energias? Ser um ambiente semelhante a este, acolhedor e confortável é o objetivo da sala de bem-estar que deve fazer parte dos escritórios do futuro. O espaço tem como objetivo funcionar como um retiro restaurador, onde os colaboradores podem relaxar e recuperar as energias. Assentos macios e iluminação especial são bem-vindos nos projetos.
Criar uma avenida multifuncional e dinâmica em meio ao escritório, onde as pessoas possam circular facilmente é uma das tendências que deve fazer parte dos projetos de escritórios do futuro. A ideia é que as mesas e outros recursos sejam organizados de forma linear, para facilitar a circulação e, assim, acentuar o estímulo à colaboração.
Com perfil informal e prático, as cabines são locais disponibilizados para atividades que exigem um pouco mais de foco ou ainda para momentos de colaboração improvisada.
Sabe aquele momento em que você precisa de foco e concentração máxima para se dedicar a uma tarefa? Os casulos foram criados pensando nessas situações. De ocupação individual, devem ser confortáveis e contar com isolamento termoacústico e mobiliário minimalista.
Apesar do nome ser um velho conhecido, o conceito de biblioteca no escritório do futuro é um pouco diferente. Além de livros, o espaço deve reunir documentos e arquivos da empresa, além de oferecer espaços direcionados a tarefas focais.