ARQUITETURA INDUSTRIAL, LABORATÓRIO•CAJAMAR, BRASIL
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto da Natura Cajamar, complexo fabril e administrativo da empresa de cosméticos localizado no município a oeste de São Paulo, foi um dos pontos de virada da carreira de Roberto Loeb. Pautado pela criação de “surpresas sucessivas” e da “arquitetura de espaços abertos”, resume Roberto Loeb, o projeto de sua autoria - vencedor de concurso fechado promovido pela empresa em 1996 - esteve amparado pela relação de confiança estabelecida entre contratante e arquiteto.
É difícil despedir-se de projetos marcantes, de modo que em fase posterior da carreira - com a entrada do arquiteto Luis Capote na sociedade, Loeb permaneceu atuante no local depois de inaugurado o complexo de Cajamar, ora cuidando da expansão de instalações, ora pensando em um plano diretor de crescimento. Até que em 2018, 22 anos depois do início do projeto inaugural, a dupla de arquitetos, junto com os arquitetos associados Chantal Longo e Damiano Leite, foi contratada para comandar duas novas frentes de trabalho no sítio: a revitalização de áreas sociais/pontos de encontro e a modernização dos laboratórios, esta última pertencente ao recéminaugurado Centro de Inovação Natura. Ambas gravitando em torno do Pátio das Jabuticabeiras, acessíveis pela ponte de 49 metros que passa sobre o jardim.
Laboratórios e Centro de Inovação Natura. Nem mesmo a profusão de aparelhos e de instalações técnicas nas mesas e tetos e a aparência asséptica dos ambientes, clara e limpa, resistem ao contato com a natureza. Também os laboratórios da Natura Cajamar, distribuídos em quatro pavimentos de um do par de edifícios do bloco de Desenvolvimento e Pesquisa conectado por passarela à recepção - o outro é o prédio dos escritórios -, expressam o espírito de integração com a natureza do campus, ladeados que são por fachada envidraçada por onde se vê a vegetação ao redor. Desde o início, os laboratórios são contempláveis pelo público externo (cerca de 5 mil viistantes por mês), mas o projeto atual abriu totalmente a face junto ao passadiço transparente que conduz à fábrica, substituindo as janelas circulares que existiam antes por grandes paredes de vidro.
Era necessário atualizar equipamentos e processos, flexibilizar os layouts e aumentar a área, inserindo estoques nas lajes a fim de facilitar o acesso aos materiais utilizados no desenvolvimento dos produtos. Impossível interromper o trabalho cotidiano e, assim, frente ao trauma logístico de cortar laje em um laboratório operante, Loeb e equipe resgataram a solução anterior do seu projeto para a SICPA - fábrica de tintas e sistemas de segurança, no Rio de Janeiro - de uso de torre automatizada de armazenamento. Acoplaram, assim, para o transporte de insumos laboratoriais, a torre externa ao edifício existente - um grande elevador com prateleiras móveis que é acessível por dentro dos pavimentos. No térreo foi criado um centro de operações junto ao equipamento, a fim de amparar o recebimento de matéria-prima e a movimentação de amostras.
Foi essencial, sobretudo nos laboratórios do quarto pavimento, a pesquisa e desenvolvimento, junto com fabricantes especializados, de mobiliário - munido com sistema de rodizio - capaz de permitir o rápido reposicionamento das bancadas, equipamentos e demais móveis especiais. Torres sobre rodas possibilitam a conexão de energia e dados em qualquer ponto do laboratório.
No terceiro andar, o cerne do projeto foi promover a maior integração das equipes e acolher a mudança do fluxo de atividades decorrente da inserção da torre de armazenamento, enquanto que no segundo pavimento, onde foram realocados e revitalizados o pequeno salão de beleza, as cabines olfativas e a área com chuveiros, sistematizou-se um programa importante que funcionava com certo improviso: o da cocriação (equipes temporárias de desenvolvimento de projetos), “porta de entrada de empresas parceiras e de startups no laboratório”, explica Damiano Leite, informando ainda a incorporação do laboratório de embalagens naquele pavimento. No primeiro andar manteve-se a área de escritório, e o térreo teve alteração importante, de inserção de um centro expositivo sobre a formulação das essências, cujo ápice é a visualização - através de uma vitrine oval feita com smart glass, vidro que varia de transparente a opaco - do trabalho da perfumista na fábrica piloto, mas que inclui ainda a criação de um espaço climatizado para plantas, o segundo volume incorporado pelos arquitetos ao projeto original. “Um novo tipo de encantamento”, cita Loeb.
Áreas de encontro e recepção: Revitalização. A passarela de acesso ao bloco de Desenvolvimento e Pesquisa a partir da recepção desemboca em um grande átrio de concreto, coberto, mas sem fechamentos laterais, que é o ponto de encontro e descanso dos funcionários daquele setor do campus. O projeto de revitalização abarca também esse núcleo vertical - no térreo, foi inserida uma lanchonete -, mas principalmente as áreas de entrada e permanência da recepção, que é o volume de forma orgânica e com 15 metros de altura por onde se acede à Natura.
De baixo para cima, o piso da recepção rente ao chão tem, de um lado, um jardim circular iluminado por claraboia no alto e, do outro, uma sala igualmente redonda que abriga biblioteca e centro de memória. Apelidada de “Sala da Justiça” é nela que ocorrem reuniões importantes, como aquelas de apresentação, avaliação e julgamento de novos produtos que serão colocados no mercado e, por isso, um dos objetivos da reformulação total do espaço foi promover a excelência acústica, assinala Loeb. Além disso, removeu-se parte da estrutura metálica que obstruía o seu pé-direito duplo, dando maior imponência à sala, os revestimentos foram mudados e o mobiliário e o espaço foram preparados para a realização de teleconferências, explica o arquiteto Luis Capote.
A área livre do pavimento foi transformada em zona para trabalho colaborativo, sistematizando, com conforto, a tendência dos usuários de usarem as áreas abertas, como o vizinho Pátio das Jabuticabeiras, como local de trabalho. Em conjunto, as transformações do andar são, na visão de Loeb, “uma espécie de enxerto que não muda a natureza do organismo, mas, ao contrário, o melhora”, reflexão válida para ambos os projetos mostrados aqui.
Já no pavimento térreo, de entrada a partir do estacionamento de veículos, a revitalização teve o objetivo de mudar a forma de acolhimento do público. “Nela, ocorre a primeira experiência do visitante com a marca e a ideia foi criarmos uma galeria de produtos”, explica a arquiteta Chantal Longo a inserção de uma grande vitrine curva de vidro, espécie de instalação escultórica criada pelo artista Renato Dib e protagonizada por frascos de produtos da Natura, e do Jardim das Rochas, escultura circular de autoria da artista Denise Milan. “O prédio em si, com seus espaços abertos e amplos, tornou mais fácil o processo de revitalização”, depõe a arquiteta.