O Lote, novo espaço multicultural dedicado à música e ao graffiti em São Paulo, tem projeto de arquitetura assinado pelo Superlimão. Localizado no Beco do Aprendiz (recentemente rebatizado Beco do Nego), na Vila Madalena, e com a proposta de revitalizar a região tradicionalmente ligada ao graffiti e à cultura urbana, o Lote tem entre suas principais características a coexistência com o espaço público.
O espaço nasceu de um projeto de revitalização urbanística que buscava restaurar o percurso do córrego do Rio Verde (hoje canalizado), que inicia no Beco do Batman e vai até o Beco do Nego - muito popular nos anos 80, mas que aos poucos foi abandonado. O terreno em questão, onde funcionava um estacionamento, permitia a conexão entre a popular quadra de basquete e a rua Padre João Gonçalves, trazendo a vida nova ao local.
No espaço de aproximadamente 650m², o partido arquitetônico foi criar uma topografia urbana que se destacasse em relação ao entorno para servir de fundo para novos graffitis, criando também um passeio com subidas e descidas que remetem às características ladeiras da Vila Madalena. Para isso, uma “montanha urbana” triangular, formada por contêineres, propõe um percurso de descobertas sobre o bairro: ao avançar pelas rampas e escadas, surgem horizontes que revelam a Vila Madalena arborizada e repleta de casas – vista atualmente reservada aos grandes prédios da região.
A escolha pelo contêiner se deu pela expertise do escritório no uso do material, além da agilidade e sustentabilidade que garante à construção ao consumir menos materiais e gerar menos entulho. No total, foram usados cinco contêineres, no que é considerado pelo Superlimão um projeto de 3ª geração no uso do material. “Utilizamos o contêiner como tijolo, matéria-prima, e não como forma final”, diz Lula Gouveia, sócio e arquiteto do escritório.
Esta estrutura em forma de triângulo abriga, no térreo, uma lanchonete Bullguer, um bar da cerveja Tiger e banheiros. No primeiro pavimento, ficam uma loja da Surreal e o estúdio da rádio online Na Manteiga – com abertura que permite interação entre DJ e pista, onde ficam mesas e bancos assinados pelo Superlimão. No terceiro pavimento, acessado por uma escada, fica o mirante de onde se observa boa parte da Vila Madalena.
O uso do contêiner e a forma pouco usual aplicada à estrutura ainda proporcionam uma plataforma convidativa aos artistas periodicamente convidados pelo Lote para preencher suas paredes com graffiti. Para a inauguração, o escolhido foi o espanhol Demsky e seu característico jogo de formas e perspectivas, em sua primeira obra no Brasil. Nos muros externos, painéis do brasileiro Flip e da também espanhola Mujer Gitana.
Para completar o Lote, uma geodésica ocupa seu pátio central, como palco para as apresentações musicais dos DJs. Sem encontrar no mercado opções com boa performance acústica, térmica e estética, o Superlimão desenvolveu internamente a estrutura. Além de funcional, projetando o som para a pista e isolando sua projeção para a rua, a geodésica cria o jogo de formas pouco usuais na arquitetura: um triângulo e um círculo.
O Lote teve ainda parte de seu terreno de fato integrado ao espaço público. Do lado de fora do espaço cultural, o recuo da construção criou uma pequena praça com bancos e jardineiras, que apoia o Beco do Nego. A coexistência é também visual e sonora, já que o estúdio da Rádio Na Manteiga tem janela para o Beco, possibilitando interação de acordo com o evento.