Na esteira do aniversário de 80 anos do Eames Office, data marcada por uma exposição e por sneakers inspirados em Ray, o diretor Eames Demetrios falou ao Metropolis sobre a matriarca que continua inspirando o design.
Metropolis: O Eames Office tem 80 anos! Como esse marco informa novas parcerias, como essa com a Reebok?
Eames Demetrios: Datas especiais são sempre interessantes. São uma chance para a reflexão. Nossa missão é comunicar, preservar, e estender o trabalho de Charles e Ray, então, certamente estamos ancorados nisso. Mas não é tão limitante por conta da amplitude de maneiras que eles abordaram o mundo. Eles também eu acredito, foram muito claros que gostariam que o escritório continuasse. Acredito que eles tinham uma intuição - eu estou certo que Ray tinha - que para continuar, novas coisas precisam ser feitas.
Metropolis: Qual é o papel do Eames Office nas novas empreitadas?
Eames Demetrios: O que Charles e Ray queriam que fizéssemos era ser parte do processo com fabricantes e representar o designer na equação, podemos dizer, e nos certificarmos de que os designs sejam bem feitos, pois eles são processos. Precisamos nos certificar de que, apesar de todas as mãos que tocam um produto, o cliente terá a experiência que Charles e Ray queriam.
A parceria com a Reebok se adequa porque ... Charles e Ray disseram, leve seu prazer a sério. E eu acredito que uma das coisas nas quais eles eram bons, era no entendimento de que a estética pode ser uma parte da função. Eu acredito que há algumas pessoas que só vão pensar que são arrojados, e então talvez se interessem pelo trabalho histórico de Charles e Ray.
Metropolis: Certo, o sapato lançado neste mês tem um trabalho de Ray. Por que hoje parece - se você me perdoa por colocar assim - como o momento de Ray para brilhar?
Eames Demetrios: Não há milhares de pinturas de Ray, mas há um número delas, e nos pareceu que essa composição, feita pouco antes dela conhecer Charles, funcionaria bem em um tênis. Novamente, o que eu gosto é que você não precisa necessariamente saber quem eles foram para gostar dessas coisas. Muitas pessoas entraram no mundo dos designs dos Eames através da porta do mobiliário. Acredito que muita gente vai hoje adentrar nesse mundo através desses sneakers.
Metropolis: Uau. As obras de arte estão em exibição em alguma coleção permanente em algum lugar?
Eames Demetrios: Estão no Columbus Museum, na Geórgia, onde é parte de uma coleção rotativa. É uma verdadeira preciosidade.
Metropolis: É sempre empolgante escutar histórias sobre mulheres que fizeram um impacto no design, especialmente em períodos onde havia tão poucas sendo reconhecidas.
Eames Demetrios: Sim. Você tem que se lembrar, na época em que eles se casaram, em junho de 1941, o mundo não era um lugar otimista, apesar de os Estados Unidos ainda não estarem em guerra. Eu digo isso porque nossa mãe lembrava de conversar sobre a guerra na Finlândia com Saarinens. Na época, a União Soviética já havia atacado a Finlândia no mesmo momento em que Hitler atacou a Polônia. Então, a guerra estava no ar. E então, a Segunda Guerra Mundial aconteceu, e tudo se acelerou, especialmente Charles e Ray, que começaram a se envolver nos esforços da guerra, fazendo as talas. Imagine que essas duas pessoas vieram para Los Angeles com o propósito de começar uma nova vida e explorar essas novas ideias de design. Eles conseguem um apartamento, começam a fazer experimentos em madeira compensada nesse apartamento, e se tornam uma equipe rapidamente. Apesar de Charles ter recebido muito mais crédito em suas vidas, eles sempre foram claramente uma equipe. Ambos tinham uma capacidade para a arte. Eles também tinham uma habilidade para a tecnologia, e eu não acho que seja inteligente separá-los demais.
Metropolis: Certo, você diz que, mesmo enquanto trabalhavam com uma equipe, eles se reuniam separados de todo o resto para tomar decisões enquanto um casal.
Eames Demetrios: Sim, eu conversei com algumas pessoas depois e eles ficaram surpresos com essas reuniões terem acontecido entre os dois deles. Como disse Ray, 'No começo, você não quer gastar o tempo das outras pessoas. Você precisa do tempo para cometer erros. Você precisa de tempo para entender as coisas. E então, você traz pessoas para o grupo'. Foi isso que Charles e Ray fizeram juntos.
Eu acredito que seja importante para as pessoas entenderem que você pode co-criar. Você pode trabalhar, e cada um pode trazer o melhor de si para o processo.
Metropolis: Há também um romance real que eu acredito que você esteja compartilhando ao destacar Ray.
Eames Demetrios: Um amigo meu me contou que esteve com Ray e ela falou sobre um momento nos anos quarenta quando ela e Charles caminhavam por Westwood admirando as ferramentas a venda na janela da Sears Roebuck, o que é tão romântico.
Metropolis: Como esse romance permitiu que eles exercitassem esse sentido de admiração?
Eames Demetrios: Eles realmente se mantiveram nesse caminho de focar nas coisas onde podiam contribuir, sem se distrair. E então eles criaram esse ambiente muito autossuficiente no Escritório, onde tinham um laboratório fotográfico preto e branco, um laboratório para fotos coloridas, um lugar para editar, uma biblioteca significativa, um ateliê, uma cozinha. Eles podiam passar por todos esses passos diferentes, incluindo a impressão 3D.
Metropolis: Parece que eles gostavam desse isolamento.
Demetrios: Para confirmar essa visão, um dos motivos pelos quais eles se mudaram para Los Angeles, foi que eles não conheciam ninguém por lá. Eles estavam conscientemente evitando muitas distrações.
Esse artigo foi publicado originalmente em Metropolis.