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21 Oct
21Oct

Estamos vivendo a era da paranoia da produtividade, diz Tania Cosentino CEO da Microsoft no Brasil que escreve sobre os desafios de liderar pessoas em tempos de trabalho híbrido.

O quanto você se considera produtivo no dia a dia profissional? Há certamente muitos fatores que podem influenciar a forma como alguém responde a essa questão. Arrisco dizer que muita gente faria uma avaliação da sua própria produtividade pensando na quantidade e na qualidade das tarefas executadas em um determinado período de tempo. Independemente do parâmetro que você prefira utilizar, a mais recente edição do Índice de Tendências do Trabalho da Microsoft (WTI Pulse Report) evidenciou algo preocupante: funcionários e líderes não pensam a mesma coisa quando o assunto é quão produtivos os colaboradores são no contexto trazido pelo trabalho híbrido. Estamos vivendo a era da paranoia da produtividade.

No Brasil, 97% dos funcionários afirmam que são produtivos no trabalho, o maior percentual entre os 11 países incluídos no estudo feito pela Microsoft e acima da média global de 87%. Os sinais de produtividade no Microsoft 365 também continuam a aumentar, com o número de reuniões por semana no Microsoft Teams tendo subido 153% globalmente quando comparado aos níveis vistos no início da pandemia. Isso sem falar nos 42% que enviam e-mails ou mensagens enquanto estão em reuniões, o famoso multitasking.

Do lado da liderança, a percepção caminha na direção contrária: 88% dos tomadores de decisão de negócios ouvidos no Brasil dizem que a mudança para o trabalho híbrido tornou desafiador ter confiança que seus funcionários estão sendo produtivos.

Na prática isso significa que as pessoas estão trabalhando mais do que nunca, mas os líderes estão cada vez mais preocupados com a possibilidade de o trabalho mais importante não ser realizado. Essa “paranoia da produtividade” é uma oportunidade para líderes gerarem clareza e alinhamento sobre qual trabalho realmente impulsiona o impacto, bem como ouvir ainda mais seus funcionários.

Cada vez mais, é fundamental que sejamos capazes de aprender a focar no impacto ou, em outras palavras, no que os funcionários fazem que realmente importa. Sem isso, organizações de todos os tipos correm o risco de serem negativamente impactadas pelo “teatro da produtividade”, ou seja, estimulando a produtividade meramente pela produtividade, e não com foco no impacto real.

Como líderes, precisamos criar precisão e alinhamento em torno das metas de negócio, eliminar esforços que não suportem esses objetivos e ouvir nossas equipes - surpreendentemente, 49% dos funcionários brasileiros ouvidos afirmam que suas empresas raramente coletam feedback dos colaboradores, um enorme fator de risco para a retenção de talentos, entre diversos outros aspectos.

Mudanças no mundo do trabalho são desafiadoras para todos. Muitos líderes e gerentes sentem que perderam oportunidades de contato visual que muitas vezes eram erroneamente interpretadas como sinais de produtividade - “ver” quem está trabalhando ao andar pelo corredor ou passando pelas salas de conferências.

Não por acaso, em comparação com os gerentes presenciais, globalmente os líderes em modelos híbridos são mais propensos a dizer que lutam para confiar em seus funcionários para fazer seu melhor trabalho (49% vs. 36%).

À medida que os funcionários sentem a pressão de “provar” que estão trabalhando, a sensação de sobrecarga também aumenta, trazendo o risco de a paranoia da produtividade tornar o trabalho híbrido insustentável.

Em meio à paranoia da produtividade, corre-se ainda o risco de abalar a percepção dos funcionários sobre as oportunidades de crescimento e aprendizado na própria empresa. Os dados mostram claramente que se sentem que não podem aprender e evoluir, a tendência é que os colaboradores deixem a organização em busca de outro emprego onde esse equilíbrio pareça mais favorável.

No Brasil, 40% dos funcionários pesquisados afirmam que a melhor forma para desenvolverem suas habilidades é trocando de empresa.

Se pudessem se beneficiar mais do aprendizado e do suporte para o desenvolvimento, 81% afirmam que ficariam mais tempo no emprego.

Esse percentual é ainda maior que a média global de 76%, evidenciando que esse é um elemento particularmente valioso para profissionais no Brasil.

Como líder, acredito que temos a oportunidade de trazer aprendizados e oportunidades de crescimento para o centro da experiência do funcionário.

Essas experiências têm de estar integradas ao fluxo de trabalho de uma maneira que os colaboradores percebam que podem aprender durante sua rotina profissional.

Discutir negócios também é, mais do que nunca, observar e tomar medidas para combater questões como a paranoia da produtividade, e proporcionar oportunidades de aprendizado e desenvolvimento que ajudem a criar um ambiente de trabalho sustentável em uma cultura flexível.

Definir qual trabalho não importa é tão importante quanto definir o que importa - em um mundo onde tudo é importante, nada é.

Tânia Cosentino é presidente da Microsoft Brasil

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